Uma nova chance para a vida: três histórias e um elo de superação
- Bárbara Andressa R. Santos
- 30 de nov. de 2016
- 5 min de leitura

Muita gente já pensou em desistir de um sonho porque se deparou com alguma situação difícil, um imprevisto ou problema que parecia não ter saída. É normal que alguns obstáculos surjam em nosso caminho, dificultando a realização dos nossos sonhos. Porém, nenhum desses imprevistos devem nos fazer desistir.
Se conseguirmos encarar cada uma dessas dificuldades como oportunidades para superar os problemas e crescer, ganhamos cada vez mais força para nossas realizações.
Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra os resultados do Censo 2000, onde, aproximadamente, 24,5 milhões de pessoas, ou 14,5% da população total, apresentaram algum tipo de incapacidade ou deficiência. Muitos destes são os que se abatem, mas há os que superam as limitações e as transformam em vitórias. Confira a seguir algumas histórias de pessoas que enxergaram oportunidades diante das dificuldades e foram muito mais longe do imaginavam.
“Eu nunca desisti, batalhei até hoje e não vou parar! ”.

Lurdes de Macedo, 48 anos, foi baleada pelo vizinho enquanto lavava louça em casa. Levou quatro tiros: um na boca, outro no ombro e dois nas costas. Como resultado, ela teve a medula óssea destruída e conta que até hoje não sabe o motivo do atentado.
Na hora do ocorrido, Lurdes diz que a família dela ficou desesperada. As
filhas ligaram para a SAMU para socorrer a mãe. Os paramédicos que a atenderam na ambulância diziam que não teriam o que fazer, pelo estado que ela se encontrava, com pouca chance de vida.
Contudo, os médicos conseguiram salvar sua vida. A dona de casa ficou tetraplégica e enfrentou um tratamento longo. Foram vários meses até se recuperar.
A primeira vitória foi passear na cadeira de rodas. No começo não foi fácil, dependia de todos os filhos para tudo. Ela não conseguia comer, pois não tinha movimento na boca por causa da fratura do maxilar causada pelo tiro. Outra situação, era a dificuldade para tomar banho “ver meus filhos me lavando era muito triste”, contou.
Lurdes começou a participar da Associação dos Lesados Medulares do RS (LEME) há três anos, e desde então ganhou assistência médica, fisioterapia e novos amigos.
Segundo ela, doutores e pacientes da Associação viraram sua segunda família. Foi por meio da Leme que conseguiu evoluir bastante na sua dificuldade de se locomover e de se alimentar. “Não conseguia nem fechar a mão e olha agora, eu fecho e abro minha mão”.
Hoje, a dona de casa consegue fazer exercícios com as pernas, mexer as mãos, faz tarefas que antes de frequentar a Associação não conseguia mais. A única coisa que não faz ainda é tomar banho sozinha e cozinhar, isso porque o fogão é alto para a cadeira de rodas que ela usa.
“Não podemos deixar de fazer aquilo que gostamos, temos que levantar a cabeça e continuar a viver. Desistir, nunca! ”
“Alegria de viver é o que me basta! ”

Alexandre Larim, 27 anos, sofreu acidente há quatro anos. Após uma colisão entre dois automóveis, ele foi lançado para fora do carro. Teve ferimentos graves e a perda dos movimentos das pernas. Ele conta que sofreu muito, nunca imaginou ficar sem andar, não aceitava a sua nova vida. Mas a família foi uma aliada para que sua reabilitação fosse um sucesso. “Tive que aprender tudo de novo, começar minha vida do zero. Se não fosse minha família e a Leme não sei se eu estaria aqui contando essa história. Mas hoje sou uma nova pessoa, com pensamentos melhores e acredito na vida”, afirma Alexandre.
O jovem conta que foi um tempo muito demorado até ele se adaptar à nova maneira de viver. E o preconceito, esse marcou o crescimento dele como pessoa. “As pessoas não sabem o que é estar em uma cadeira, sem poder andar e não poder fazer muita coisa”, desabafou.
Ele aprendeu a enfrentar as dificuldades com o pouco que lhe restou. Buscou manter sempre o bom humor e ajudar os seus colegas de recuperação, repartindo o apoio da filha que o acompanha todas as terças e quintas-feiras da semana, na Leme. “Minha filha sempre está comigo, ela me acompanha diariamente, é minha companheira de luta”.
Neste momento Alexandre, tem convicção que na vida o que não tem solução é a morte. O fisioterapeuta da organização, Leandro Lopes, comenta que o paciente mais divertido é, justamente, Alexandre.
“As pessoas podiam se colocar no lugar dos outros um pouco, parar de reclamar. Nós, que temos tantas dificuldades e limitações, não reclamamos, vivemos felizes pela oportunidade de acordar todos os dias. ”
“Meu sonho é formar uma família”

Tobias Ferreira, 29 anos, um jovem de muitos sonhos, um deles era formar uma família e ter muitos filhos. Seu sonho não acabou, só foi adiado.
Ele sofreu acidente de motocicleta quando tinha 25 anos, fraturou a 9ª vértebra da coluna e se tornou tetraplégico. Tinha uma vida muito ativa, sempre saia com meus amigos, gostava de praticar esportes. Confesso que eu desanimei, pensei em até me matar, mas foi com ajuda da minha família que consegui a superar minha situação, comenta Tobias.
O rapaz teve um progresso espantoso, pois ele dependia de fraldas geriátricas e não se relacionava com ninguém. Tobias mora em Parobé, seu tratamento é feito na cidade de Novo Hamburgo. Ele tem sessões de fisioterapias e psicológicas dois dias na semana. Sua melhora é notada nitidamente, hoje ele mantém convívio direto com mais ou menos 100 pessoas, entre elas os profissionais e voluntários da Associação dos Lesados Medulares do RS e adora conversar.
“Participo do time de basquete aqui do leme, procuro sempre estar no meio das pessoas e quero namorar, estudar e formar minha família”, diz Tobias.
O acidente que o fez tetraplégico não fez que ele parasse de viver, mas deu mais vontade de querer trabalhar, estudar e de realizar seu sonho. Peço para as pessoas que elas, tenham mais consciência na hora de dirigir. Porque dirigir pensando só em si, é perigoso demais. Como no meu acidente, eu não fiz nada para causá-lo, fui envolvido, um carro bateu na moto onde eu estava de carona. Então esse é o meu recado, consciência no trânsito é uma maneira de cuidar de todo mundo.
Todas essas histórias têm algo em comum, a reabilitação e a ajuda que a Leme proporcionou a cada um deles ter uma nova vida.
O fisioterapeuta Leandro Lopes, trabalha desde de 2003 um ano depois da criação da Associação dos lesados Medulares do RS, ele explica que a proposta da Leme é devolver o lesionado para o mercado de Trabalho, porque um lesado medular não é igual a um deficiente físico. Uma coisa é você nascer com uma deficiência, convive e aprende com todas as dificuldades, outra, é você ter uma vida normal e ser interrompida e ter que aprender viver com todos os obstáculos da deficiência. Por exemplo, quando um médico sofre um acidente e se torna deficiente medular, ele continua sendo médico, só que na cadeira. Essa é a diferença entre um deficiente físico e um lesionado, a cadeira se torna as pernas da pessoa.

No começo, quando a associação foi criada, era apenas nove pessoas, hoje, temos mais de 300 pessoas que fazem tratamento, podemos ver que aqui não é um lugar de tristeza, de lamentação e sim de alegria de pensar em melhorar.
Segundo informações da Leme, a lesão medular (LM) é o trauma na medula espinhal e uma importante causa de deficiência.
As causas da lesão da medula espinhal são veículos (44,8%), quedas (21,7%), atos de violência (16%) e esportes (13%). Uma vez que quase 60% dos casos ocorrem em adultos jovens entre as idades de 16 a 30 anos lesão medular tem um custo significativo em questão de cuidar da vida e a perda de A lesão da medula pode resultar da interrupção anatômica, compressão, isquemia, ou qualquer combinação desses fatores. “Nós da Leme, buscamos fazer dos nossos pacientes, pessoas melhores, um precise do outro, não temos faixa etária de pacientes, podemos ver os mais novos ajudando os mais velhos e vice e versa. Isso que queremos é adaptar eles para um novo futuro, com limitações sim, mas com esperança e principalmente independência. Queremos ver nossos amigos com uma nova visão de vida” reforça o fisioterapeuta Leandro Lopes.
Veja algumas fotos das sessões de fisioterapias da Assossiação Associação dos Lesados Medulares do RS (LEME)
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